Fernando Rodrigues
O ministro chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, desistiu de
viajar hoje (27.jun.2015) para os Estados Unidos com a presidente Dilma
Rousseff e colegas de ministério. O cancelamento ocorreu um dia após a
revelação parcial do teor da delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da
UTC, à Procuradoria-Geral da República.
No depoimento prestado no âmbito da Operação Lava Jato, Pessoa
afirmou que foram feitos repasses irregulares de dinheiro a campanhas do
PT, entre as quais, a de Mercadante ao governo de São Paulo, em 2010. O
ministro da Casa Civil negou ter recebido dinheiro de forma irregular.
O tesoureiro da campanha de Mercadante em 2010, Eduardo Tadeu
Pereira, disse que não conhece pessoalmente o dono da UTC. “Não o
conheço. Nunca conversei com ele. Não tenho como saber por que ele teria
citado a campanha de Mercadante como alvo de caixa 2”, afirmou. Pereira
confirmou que a empreiteira doou dinheiro para a campanha, mas disse
que o repasse foi informado na prestação de contas.
Diante da crise provocada pelo teor do depoimento de Pessoa, a
presidente Dilma Rousseff convocou hoje Mercadante e os ministros José
Eduardo Cardozo (Justiça) e Edinho Silva (Comunicação Social) para uma
reunião emergencial no Palácio da Alvorada, nesta manhã (27.jun.2015).
A reunião atrasou o embarque da comitiva presidencial para os Estados
Unidos, que estava agendado para as 9h. A decolagem ocorreu perto de
10h45. Dilma tem uma agenda extensa nos próximos dias. A presidente vai
se reunir com o presidente Barack Obama e com empresários para tentar
atrair investimentos para o país.
Além de Mercadante, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, não embarcou
no avião presidencial. Na sexta-feira, ele foi internado em um hospital
em Brasília com suspeita de embolia pulmonar. Apesar da gravidade do
problema de saúde, o Planalto tem a expectativa de que Levy embarque
hoje (27.jun.2015) ou amanhã (28.jun.2015) para os EUA, possivelmente em
um voo comercial.
Enquanto Dilma permanece no exterior, a crise política será
administrada, dentro do Palácio do Planalto, pelos ministros Aloizio
Mercadante e Edinho Silva. Hoje ainda (27.jun.2015), os ministro José
Eduardo Cardozo e Edinho Silva devem conceder uma entrevista coletiva
para falar sobre as citações ao governo no âmbito da Operação Lava Jato.
PLANALTO MONTA LINHA DE DEFESA FRÁGIL PARA DILMA
Josias de Souza
Ao
confirmar que transferiu R$ 7,5 milhões do dinheiro roubado da
Petrobras para a tesouraria da campanha presidencial de Dilma Rousseff
em 2014, o empreiteiro Ricardo Pessoa transformou a presidente da
República numa personagem irreconhecível —uma mistura de administradora
ingênua com candidata distraída. Na presidência do Conselho de
Administração da Petrobras, Dilma não viu a ação dos assaltantes. No
palanque eleitoral, usufruiu do produto do roubo.
Consumado o constrangimento, o Planalto montou uma linha de defesa
precária. Nesse enredo, a presidente continuará fazendo pose de aliada
dos investigadores. Repetirá que a Lava Jato só avança porque os
governos do PT criaram as condições. Tomará distância do caixa de sua
campanha, mas ecoará o discurso de que o dinheiro da eleição foi 100%
legal. E seus auxiliares cuidarão de realçar que as construtoras
enroladas doaram verbas também a candidatos da oposição.
Essa linha de defesa é frágil porque exige que a plateia aceite Dilma
como uma cega atoleimada. E supõe que a Procuradoria, o STF o próprio
TSE aceitarão passivamente a conversão da Justiça Eleitoral em
lavanderia de verbas mal asseadas. Se tudo funcionar como planejado,
Dilma chega ao final do mandato como uma presidente de desenho animado.
Às vezes parece faltar-lhe o chão. Mas Dilma continua caminhando no
vazio. Se reconhecer que está pisando em nada, despencará. Acha que,
simulando que não se deu conta, conseguirá atravessar o abismo. Torce
para que ninguém estranhe nada e para que não lhe façam muitas
perguntas. Só não pode olhar para baixo.BLOG:O PRIMO
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