Estadão Conteúdo
Brasília – Na véspera da votação de sua denúncia no Congresso
Nacional, o presidente Michel Temer participou de um jantar com
deputados da base aliada na casa do vice-presidente da Câmara, Fábio
Ramalho (PMDB-MG), na noite desta terça-feira. Cercado pelos
parlamentares, Temer discursou para os presentes em clima de desabafo.
Ele admitiu “ingenuidade” no episódio envolvendo a gravação do
empresário Joesley Batista, da JBS, a quem acusa de praticar
“banditismo”.
“Não tem sido fácil essa luta”, disse antes de complementar.
“Provocações que são feitas fruto, convenhamos, de um acidente e uma
certa ingenuidade, mas fruto, fundamentalmente, de um banditismo muito
negativo. Sou obrigado a dizer isso em voz alta e em letras garrafais
para que as pessoas saibam com quem estamos lidando”, afirmou, em trecho
vazado à reportagem do Broadcast Político.
Temer chegou ao local sob aplausos dos deputados depois de subir seis
lances de escada. Isso porque, pouco antes, o elevador do prédio
residencial parou de funcionar. Apesar do contratempo, ele elogiou o
clima positivo na casa do vice-presidente da Câmara.
“Quando nós fizemos o que fazemos pelo País, estou falando de todos
nós. Não governo sozinho, governo com todos vocês. Mas vamos dizer que
talvez não haja quórum amanhã. Já me sinto feliz pelo carinho, pela
amizade, pela fraternidade que encontrei durante todo o dia de ontem e
hoje, especialmente aqui na casa do Fabinho”, disse.
O presidente ficou pouco mais de 30 minutos na residência do
parlamentar e sorriu com as brincadeiras relacionadas ao deputado
federal Wladimir Costa (SD-PA), que ganhou notoriedade nos últimos dias
por, supostamente, ter feito uma tatuagem no ombro direito com o nome do
presidente. Costa estava presente no jantar e, na saída, afirmou que os
colegas aprovaram a “homenagem”. “Vários parlamentares disseram que
irão procurar um tatuador para fazer homenagem parecida”, declarou.
(Renan Truffi)
TEMER DEVE ESCAPAR, E PLACAR IRÁ MOSTRAR SE ELE SEGUE COM FORÇA
Bernardo Mello Franco
Folha de São Paulo
BRASÍLIA – Ao que tudo indica, Michel Temer se salvará da
primeira denúncia da Procuradoria-Geral da República. Há pouquíssima
chance de reviravolta na sessão marcada para esta quarta. A oposição
admite que não reuniu os 342 votos necessários para afastar o
presidente. Na melhor hipótese, conseguirá adiar a decisão até a próxima
semana.
A principal dúvida em Brasília é sobre o dia seguinte à votação. O
placar dará a medida do estrago causado pelo escândalo da JBS. A
depender dos números, será possível projetar a força de Temer para tocar
o governo e enfrentar novas turbulências.
O presidente sonhava em chegar perto dos 300 votos a favor do
arquivamento da denúncia. Neste caso, ele poderia dizer que continua com
ampla maioria na Câmara. Bastaria recuperar mais alguns votos para
aprovar mudanças na Constituição.
Nos últimos dias, esse cenário foi praticamente descartado pelo
Planalto. Previsões mais realistas passaram a sugerir que o governo não
passará dos 260 votos. Os aliados mais pessimistas contabilizam apenas
220 deputados firmes com Temer.
Se esse quadro se confirmar, o presidente pode festejar uma vitória
de Pirro. Ele escaparia da primeira denúncia, mas perderia a chamada
governabilidade. Viraria um zumbi no Planalto, sem condições de aprovar
projetos relevantes e ainda mais refém da chantagem parlamentar.
Um Temer tão enfraquecido não teria mais como vender a promessa das
reformas. Isso tornaria sua permanência pouco atrativa a um empresariado
que já flertou com a ideia de instalar Rodrigo Maia no Planalto. Uma
vitória apertada ainda deixaria o presidente mais exposto às próximas
flechas de Rodrigo Janot.FONTE: BLOG O PRIMO
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