Deu no Blog do Josias de Souza
Em duas semanas, o PMDB realizará em
Brasília um congresso partidário. Debaterá um esboço de programa de
governo. Divulgado na semana passada, odocumento
chama-se ‘Uma ponte para o futuro’. Na economia, é a favor de tudo o
que a gestão Dilma rejeita e contra qualquer coisa que a presidente
realiza.
No papel, o principal sócio do PT no
poder federal virou a mesa. Mas fez isso à sua maneira, sem tirar os
cotovelos do tampo. Manteve-se à frente de sete ministérios. Nomeia
freneticamente apaniguados para os escalões inferiores da máquina
estatal. E convive harmonicamente com Renans e Cunhas.
Quer dizer: não é que o PMDB não veja a
solução para a crise. O que o partido não enxerga é o problema. Ou, por
outra: o PMDB se oferece como solução sem se dar conta de que, antes,
precisa deixar de ser parte do problema.
Na sua proposta de programa, o PMDB se
propõe a “buscar a união dos brasileiros de boa vontade.” Anota que “o
país clama por pacificação, pois o aprofundamento das divisões e a
disseminação do ódio e dos ressentimentos estão inviabilizando os
consensos políticos sem os quais nossas crises se tornarão cada vez
maiores.”
“A presente crise fiscal e,
principalmente econômica, com retração do PIB, alta inflação, juros
muito elevados, desemprego crescente, paralisação dos investimentos
produtivos e a completa ausência de horizontes estão obrigando a
sociedade a encarar de frente o seu destino”, diagnostica o PMDB.
“Nesta hora da verdade, em que o que
está em jogo é nada menos que o futuro da nação, impõe-se a formação de
uma maioria política, mesmo que transitória ou circunstancial, capaz, de
num prazo curto, produzir todas estas decisões na sociedade e no
Congresso Nacional”, receita o PMDB. “Não temos outro caminho a não ser
procurar o entendimento e a cooperação.”
O que o PMDB disse, com outras palavras,
foi o seguinte: Dilma quebrou o país e perdeu as condições de governar.
Acomodado no lugar dela, o vice Michel Temer se entenderia com a
oposição, formaria um gabinete transitório de união nacional e aprovaria
no Congresso as reformas necessárias para tirar o Brasil do buraco
—mais ou menos como fez Itamar Franco nas pegadas do impeachment de
Collor.
Respaldado pela maioria transitória,
Temer promoveria as reformas amargas que Dilma jamais proporá. Por
exemplo: fim da indexação dos benefícios previdenciários ao salário
mínimo e fixação de idade mínima para a aposentadoria (60 anos para
mulheres e 65 para os homens). Beleza. Agora só falta o PMDB se virar do
avesso.
Quando surgiu, em 1966, o PMDB era o
contraponto à ditadura militar e representava o Brasil inteiro. Depois
da redemocratização, passou a representar grupos econômicos e
corporações. Hoje, representa a si próprio.
No passado, a face mais conhecida do
PMDB era a de Ulysses Guimarães. Hoje, o PMDB é o bigode do Sarney, na
cara do Renan, emoldurada pela sobrancelha do Jucá. Tudo isso e mais o
estômago hipertrofiado do Cunha.
Nesse contexto, o documento ‘Uma ponte
para o futuro’, concebido para ser uma luz, é ofuscado pelo pus que a
plateia enxerga no fim do túnel.
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