A indefinição no cenário pré-eleitoral é um reflexo da crise de
liderança que vive o Rio Grande do Norte. A avaliação, feita pelo
cientista político Antonio José Spinelli, considera também a
imprevisibilidade no surgimento de novos messias para o RN. “Os
políticos tradicionais apostam nos filhos. Cada um das quatro famílias
tem um filho na política. Claro que os pais tem a pretensão de passar o
bastão, mas ninguém pode garantir que eles serão líderes. É preciso
carisma e capacidade de agregar apoios”.
O quadro de indefinições do Rio Grande do Norte foi parar, nesta
segunda-feira (28), nas folhas nacionais. Sob o título “Sem candidatos
declarados, eleição no RN é uma incógnita”, o jornal Brasil Econômico
abre seu caderno de política dando destaque ao assunto.
“Muitas indefinições e especulações marcam o cenário pré-eleitoral do
Rio Grande do Norte. Nem a atual governadora, Rosalba Ciarlini, do DEM,
confirma sua candidatura à reeleição em 2014. Última colocada nas
pesquisas de intenção de voto, Rosalba tem sua gestão mal avaliada pela
população. Segundo levantamento realizado pelo Instituto Consult, 71,7%
dos potiguares desaprovam o governo atual. Mas, nenhum dos possíveis
adversários da governadora assume a candidatura, a não ser o atual
vice-governador do estado, Robinson Faria, do PSD, o quarto colocado nas
sondagens de intenções de voto”, diz o texto em sua abertura.
Para Spinelli, essa indefinição pode ser considerada um fato novo na
política local, na medida em que consolida uma tendência iniciada em
meados da década passada.
“Essa indefinição é um fato novo porque nas últimas eleições tínhamos
sempre um quadro de disputa entre PMDB e PFL por 20 e poucos anos,
desde 1982. Isso, na prática, foi quebrado em 2006. Em 2002, Wilma de
Faria foi eleita com apoio do PFL. Em 2006, PFL e PMDB se unem. E ao
mesmo tempo Dona Wilma se consolida como uma terceira força”, analisou o
cientista.
No mais provável dos cenários, a disputa no RN caminha para a
polarização entre DEM – se a governadora se lançar à reeleição – e PMDB.
Spinelli considera, contudo, que só um “milagre” viabiliza a reeleição
de Rosalba. Sobre o PMDB, ele cita que, se o candidato for Henrique
Alves, o partido não vai para o pleito sem costurar um “acordão”,
conforme a seguinte entrevista:
A completa indefinição no cenário local, mesmo com as figuras
de sempre, pode ser considerado o fato novo da política do RN, certo?
Essa indefinição é sim um fato novo porque nas últimas eleições
tínhamos sempre um quadro de disputa entre PMDB e PFL por 20 e poucos
anos, desde 1982. Isso, na prática, foi quebrado em 2006. Em 2002, Wilma
de Faria foi eleita com apoio do PFL. Em 2006, PFL e PMDB se unem. E ao
mesmo tempo Dona Wilma se consolida como uma terceira força. Você vê
também que na Câmara Federal e Assembleia Legislativa o partidarismo é
maior a partir de 2002. Os anos de 2002 e 2006 são anos de viragens. Não
há mais um partido hegemônico. Há uma dispersão partidária muito
grande, o que indica uma certa crise de liderança.
Pelo que o senhor falar, então, uma crise de liderança se instalou.
Era assim efetivamente [a disputa polarizada]. A composição
refletia a disputa bipolar, que agregava forças. A partir de 2002 essas
forças perdem a hegemonia. E isso reflete crise de liderança. Tanto é
que o PMDB perde a hegemonia e não se renova. Tanto é que o PMDB só tem o
nome de Garibaldi para o governo. Henrique só vai se tiver aliança
muito ampla. O grande aspecto da crise é que não se consolidaram
lideranças novas. Você tem os filhos, mas são caras ainda muito jovens e
inexperiente. Não mostraram se são capazes de exercer liderança ou não.
O senhor fala de eleições para governo e legislativo como se o
leitor as pensasse como pleitos diferentes. A análise correta é de que o
eleitor se emancipou da influência do majoritário sobre o proporcional?
É assim sim. O eleitor segue uma lógica para majoritária,
particularmente governador. É o voto dele, o voto de eleitor. O voto
proporcional está muito atrelado a indicações de chefes políticos, isso
principalmente no interior, ou então mesmo de dinheiro.
As atuais lideranças estão quase esgotadas. Dá para pensar na construção de líderes para os próximos quatro anos?
É muito imprevisível. Quem diria que Fernando Haddad seria eleito
prefeito de São Paulo, enfrentando políticos profissionais?. É claro
que o PT tem uma estrutura forte, mas é imprevisível. Podem surgir novas
lideranças. Nas eleições pode ocorrer uma liderança. Agora se esse
alguém é quem vai conseguir projetar e agregar aliados isso aí e
imprevisível. Os políticos tradicionais apostam nos filhos. Cada uma das
quatro famílias (Alves, Maia, Rosado e Faria) tem um filho na política.
Claro que os pais tem a pretensão de passar o bastão, mas ninguém pode
garantir que eles serão líderes. É preciso carisma e capacidade de
agregar apoio.
Voltando ao início da conversa, sobre indefinições, há como a governadora Rosalba Ciarlini viabilizar sua reeleição?
Só um milagre para ela viabilizar sua candidatura. No último fim
de semana, o principal colaborador da governadora, o secretário Obery
Rodrigues, deu entrevista sobre as dificuldades do orçamento. Por mais
que ele apresente argumentos que parecem ter procedência, é uma situação
que já se consolidou. Ela não tem diálogo com outros poderes. Não há
como recuperar isso, a menos que ela fizesse um pacto político. Mas ela
não tem apetite, nem é o estilo dela. Ela governou Mossoró com estilo
clientelista. E não se pode governar o Estado como se governasse
Mossoró. Nessa questão de orçamento falta bom senso de todas as partes,
da Assembleia, do Tribunal de Justiça e do Ministério Público. Nenhum
está preocupado com o bem público. Estão preocupados em garantir suas
benesses. É uma briga meramente corporativa.
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