Em novo depoimento na tarde desta quarta-feira ao juiz federal Sérgio
Moro, no âmbito da Operação Lava-Jato, o lobista Fernando Moura, que
assinou acordo de delação premiada, afirmou que 3% dos valores dos
contratos firmados na diretoria de Serviços da Petrobras durante a
gestão de Renato Duque eram divididos em partes iguais pelo grupo
petista de José Dirceu, em São Paulo, para o PT Nacional, inicialmente
comandado por Delúbio Soares e depois por demais tesoureiros, e por
Duque e seus subordinados. Amigo de Dirceu, Moura foi preso em agosto,
na 17ª fase da Lava-Jato, na qual foi denunciado por corrupção, lavagem
de dinheiro e organização criminosa.
“As primeiras conversas que a gente teve, negociei eu, ele (Duque) e
Silvinho (Pereira), foi em relação às plataformas (de petróleo), da 51 a
56. E depois um oleoduto que ia sair e acabou não saindo. Nesse dia, a
gente definiu que seria 1% pro núcleo São Paulo, 1% para o núcleo
nacional, e 1% para a companhia, Renato Duque e seus gerentes. Três por
cento do contrato ao todo”, explicou Moura, esclarecendo que o núcleo
São Paulo era composto pelo PT paulista, sobretudo aliados do
ex-ministro da Casa Civil e o núcleo nacional era comandado por Delúbio
Soares e depois por outros tesoureiros do PT. Segundo apurou O Globo,
Dirceu usava o dinheiro em campanhas de candidatos aliados.
O CONGRESSO NACIONAL LOGO SERÁ COMANDADO POR DOIS RÉUS
O STF se equipa para analisar denúncias da Procuradoria contra Renan
Calheiros e Eduardo Cunha. Planeja fazê-lo entre o fim deste mês de
fevereiro e os primeiros dias de março. Guiando-se pela lógica, os
ministros da Suprema Corte acolherão as denúncias, convertendo-as em
ações penais. Quando isso acontecer, as duas Casas do Legislativo
brasileiro passarão a ser presididas por excelentíssimos réus. E o
vexame se converterá em escárnio.
Renan e Cunha não pensam em se afastar voluntariamente dos cargos.
Seus poucos rivais não reúnem forças para arrancá-los da poltrona. “Já
dei todas as explicações”, minimizou Renan, ao comentar a denúncia de
que usou verbas de uma empreiteira para pagar a pensão de uma filha que
teve fora do casamento, em 2007. “O fato de aceitar a denúncia não
significa que eu sou condenado”, deu de ombros Cunha, ao se referir às
evidências de que recebeu petropropinas. “Vou continuar em qualquer
circunstância.”
Os mandachuvas do Legislativo são protótipos do patrimonialismo
brasileiro. Ambos trazem implantada na alma a convicção de que não é o
Congresso que tem um par de presidentes; são os presidentes do Senado e
da Câmara que têm o Congresso. Os dois não se sentem como pessoas
públicas. O país é que atrapalha suas vidas privadas.
Renan e Cunha são como o Aedes aegypt. Desenvolveram-se nas águas
paradas do Congresso. Sugaram o sangue do Tesouro Nacional. E transmitem
um vírus que causa microcefalia coletiva em seus pares, desobrigando-os
de refletir. Os 38 congressistas investigados na Lava Jato —14
senadores e 24 deputados— dão aos outros 556 parlamentares uma péssima
fama. Mas a democracia brasileira ainda não desenvolveu uma vacina capaz
de imunizar o país contra zikas como Renan e Cunha.
Por Josias de Souza
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