Fora
da inconsciência e da loucura não há como escapar dos presságios
evocados pelo clima de que ‘oba-oba’ que vigora no Senado. Entre um
‘oba’ e outro, Renan Calheiros (PMDB-AL) renuncia à presidência e
recandidata-se à presidência, o certo e o errado desaparecem, surgem os
conceitos de conveniente e inconveniente. Sob o clima de oba-oba é
conveniente evitar o debate político. Os opositores, por inconvenientes,
transformam-se em chatos que querem estragar a festa.
Velho
estraga-prazeres, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) enviou aos seus 80
colegas uma carta. No texto (disponível aqui), ele exorta Renan a “abrir
mão” de sua pretensão de presidir o Senado “em benefício do senador
Pedro Simon (PMDB-RS)”. Refere-se a Simon, 83, como personagem que, “ao
longo de sua vida política e administrativa”, jamais empurrou para
dentro de sua biografia um “malfeito.”
Na
sua sacrossanta ingenuidade, Suplicy escreve: “Se há um senador que
seria capaz de obter o consenso entusiástico e praticamente unânime de
todos os demais 80 senadores, […] é o senador Pedro Simon.” Convidado
por “oposicionistas” e “independentes” a se lançar na disputa, o próprio
Simon já refugou a oferta um par de vezes. Lendo a carta do amigo, deve
ter perguntado de si para si: por que é que o Suplicy não vai ver se
estou na esquina?
Siuplicy também
recorda na carta que Renan encontra-se sob suspeita de ter incorrido em
“práticas impróprias”. Coisas apuradas pela Polícia Federal e
denunciadas ao STF pelo procurador-geral Roberto Gurgel. “Nós,
senadores, teremos que aguardar um tempo até que haja o esclarecimento
sobre todos os episódios apontados.” Se ficar constatado que “tiveram
fundamento, constituem problemas sérios para quem hoje se candidata à
presidência do Senado.”
É como se
Suplicy, um inconveniente contumaz, quisesse recordar aos colegas a
história do garoto que tinha mania de puxar o rabo do gato. Até o dia em
que o gato lhe deu uma mordida e ele aprendeu a lição. Na vez seguinte,
o moleque deu uma porretada na cabeça do gato antes de puxar o rabo.
Nas entrelinhas de sua carta, Suplicy como que pergunta aos outros
senadores: o que fará o Renan da próxima vez? Num clima de ‘oba-oba’,
esse tipo de questionamento não orna com o ambiente.
Fonte: Josias de Souza
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