A prisão do ex-ministro Henrique Eduardo Alves (PMDB) pela Polícia
Federal, após investigações apontarem recebimento de propina de
empreiteiras em troca da execução de favores políticos, abala os planos
futuros de vários integrantes da fámilia alves e principalmente do
prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves (PDT). Pré-candidato a
governador nas eleições de 2018, o chefe do Executivo municipal assistiu
nesta terça-feira 6 à derrocada de um dos seus principais aliados
políticos.
Após ser deputado por alguns mandados por ser da família Alves e se
tornar prefeito longe da família, Carlos Eduardo estabeleceu uma
proximidade muito intensa com Henrique Alves, entregando nas mãos do
primo a indicação para o comando de áreas estratégicas do governo
municipal. A começar pela indicação do vice-prefeito Álvaro Dias na
última eleição.
Depois de apoiar Henrique para governador em 2014 após quebrar um
acordo público com o atual governador Robinson Faria, Carlos aceitou o
apoio do ex-ministro do Turismo em 2016. Em troca, o PMDB indicaria o
vice.
Disputaram a indicação de vice de Carlos Eduardo o empresário Fred
Queiroz, então secretário de Turismo, hoje de obras, preso nesta
terça-feira na Lava Jato, o presidente da Fecomercio, Marcelo Queiroz, e
o deputado estadual Álvaro Dias. Com aval de Henrique, venceu a disputa
Álvaro Dias. O objetivo da articulação era que Carlos Eduardo
renunciaria à Prefeitura para disputar o governo do Estado em 2018. Com
isso, Álvaro Dias assumiria a prefeitura de Natal representando o PMDB e
Henrique Alves.
Além da vice-prefeitura, outros espaços da administração municipal
foram entregues por Carlos Eduardo a Henrique Alves. É o caso, além de
Fred Queiroz – que, não sendo vice-prefeito, foi para a Secretaria de
Obras –, de Christiane Alecrim, por exemplo.
A secretária municipal de Turismo é filha do contador Eurico Alecrim,
que foi tesoureiro da campanha de Henrique ao Governo em 2014. Na
operação Manus, Alecrim foi levado coercitivamente para depor, assim
como o publicitário Arturo Arruda (Art&C) e o ex-secretário do
governo Garibaldi Jaime Mariz.
Cargos de segundo escalão na gestão de Carlos Eduardo também são
ocupados por indicações de Henrique. É o caso do ex-vice-prefeito de São
Gonçalo do Amarante, Poti Neto (PMDB), que ocupar cargo no NatalPrev, o
fundo de previdência dos servidores municipais. E de Marília Dias,
ex-prefeita de Macaíba, que é adjunta do Turismo Municipal.
No plano federal, a gestão de Carlos Eduardo é dependente em boa
medida da articulação de Henrique, que, agora preso, terá dificuldade de
conquistar recursos para a administração de Carlos Eduardo.
Para além do desgaste da prisão do primo, Carlos Eduardo também tem
admitido o desgastes administrativo. Desde que venceu a eleição, parece
que entrou em inferno astral. De cara, começou a atrasar os salários dos
servidores. Concomitantemente, ampliou as dívidas do município com
fornecedores e trabalhadores terceirizados. No apagar das luzes da
gestão de 2016, cometeu a irregularidade de utilizar recursos do IPTU de
2017 e está sendo investigado pelo procurador-geral de Justiça Rinaldo
Reis Lima.
Ao entrar o ano de 2017, deparou-se com outros problemas. Teve de
enfrentar pedido de Comissão Especial de Inquérito (CEI) para se
defender do uso antecipado do IPTU, o que é considerado uma espécie de
pedalada fiscal. Montou uma bancada gigantesca de 24 de um total 29
parlamentares para poder barrar o pedido. Com isso, comprometeu ainda
mais a gestão, loteada por indicações de Henrique e também de outros
aliados, como José Agripino e partidos pequenos com foco de 2018.
Além disso, o prefeito ousou desobedecer uma decisão do Tribunal de
Contas do Estado, que determinou não sacar recursos do Natalprev, mesmo
após aprovação de uma lei na Câmara de Natal. Carlos sacou, e depois foi
ao presidente do TCE, Gilberto Jales, pedir desculpas e devolver o
dinheiro. O episódio mostrou desrespeito com o órgão e repercutiu
negativamente perante as instituições do Rio Grande do Norte.
O último e grande desgaste foi abandonar a cidade junto com seu vice
para irem passar dias na terra do tio sam e passear na Disney.
Em meio a tudo isso, administrativamente a Prefeitura enfrenta muitos
problemas. A cidade está suja, as praças estão abandonadas, as quadras
de esportes destruídas, as orlas desamparadas, os postos de saúde com
falta de médicos e de insumos e as salas de aula faltando professores e
com deficiência estrutural. A cidade está parada em seu desenvolvimento,
não há projetos de autoria própria da gestão. Em cima de tudo isso, a
crise financeira não dá tréguas.
Na semana passada, pesquisa do Instituto Seta publicada pelo BlogdoBG
mostrou que 37,7% dos natalenses considera a gestão de Carlos Eduardo
“ruim” ou “péssima”. Número que reflete o descontentamento da população
que elegeu o pedetista ainda em primeiro turno em 2016.
Diante deste quadro, com o agravamento agora da prisão de seu
principal aliado político, Carlos Eduardo se vê diante da necessidade de
rever seus planos políticos. A não ser que aconteça um milagre, ele
terá de adiar o sonho de governar o Rio Grande do Norte ficando de fora
da eleição do próximo ano. A não ser que o quadro mude radicalmente,
dificilmente ele será candidato.
Texto do Portal AGORA RN com algumas colocações do BlogdoBG
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