O
deputado federal Betinho Rosado continua enfrentando o dilema do
processo de infidelidade partidária reclamado pelo DEM, depois que ele
deixou a legenda pelo PP. Ele volta a falar desse assunto no “Cafezinho
com César Santos”, defendendo suas razões, mas também faz uma análise da
atual situação política do Rio Grande do Norte, que, segundo ele, está
dividida entre os blocos do DEM, do PMDB e do PSB da ex-governadora
Wilma de Faria, que termina o ano sendo protelada pelas forças
tradicionais. O jornalista Jotta Paiva, editor de política do JORNAL DE
FATO, também participou do cafezinho. Leia:
O senhor deixou o DEM pelo PP e essa questão
acabou na Justiça Eleitoral, com o DEM reclamando o mandato. Quais as
perspectivas reais para o desfecho desse processo?
Eu tenho um conjunto de argumentos que vou apresentar
novamente porque eu creio na Justiça. Os argumentos são simples. A
fidelidade partidária tem duas mãos: uma do parlamentar com o partido e a
outra do partido com o parlamentar. A prestação de contas do Democratas
da última eleição mostra, de forma absolutamente cristalina, que não
houve fidelidade do partido em relação a Betinho Rosado. O deputado
candidato, Felipe Maia, recebeu do partido um milhão e duzentos mil
reais; Rogério Marinho (PSDB), de outro partido, recebeu duzentos mil
reais, deputados estaduais de outros partidos também receberam dinheiro,
mostrando que não houve essa reciprocidade, essa fidelidade partidária.
Em nome dessa fidelidade partidária é que eu saí do partido, e espero
que a Justiça reconheça essa infidelidade partidária do Democratas.
ANTES da saída, antes de sair do DEM, o
senhor fez uma consulta aos órgãos eleitorais e sua situação era
desfavorável. Mesmo assim, o senhor assumiu o risco?
EXATAMENTE. Não tenha dúvida que tem o risco envolvido
no processo, mas a minha expectativa é que esse argumento forte
prevaleça no final.
TEM alguma consulta observando que, em um
resultado negativo, o senhor se torna inelegível pelo fato de ter
parentesco em segundo grau com a governadora?
É, REALMENTE, eu só posso, por conta desse parentesco
por afinidade com a governadora, ser candidato se tiver um mandato e ser
candidato à reeleição neste mandato. Eu não posso ser candidato a
nenhum outro cargo a não ser de deputado federal. E se eu perder o
mandato, eu fico inelegível. Mas veja bem: em face aos acontecimentos da
campanha passada, era impossível eu disputar o mandato pelo Democratas.
Então, se eu ficasse no Democratas, eu não tinha condições mais de ser
candidato à reeleição porque não tinha mais os caminhos nem os meios
para fazer uma campanha. Portanto, o risco é objetivando a possibilidade
de renovação do mandato, coisa que eu não teria junto ao Democratas.
QUE motivos o DEM teria para não priorizar o seu mandato?
ESSA daí quem vai responder é Zé Agripino, que é o presidente estadual e nacional do DEM.
COMO está o seu relacionamento com o senador?
MEU relacionamento com o senador é cordial, como é
cordial o meu relacionamento com a maioria das pessoas que já conheci e
conheço em minha vida. Mas é fato também que eu não recebi essa ajuda. E
isso eu estou dizendo, nem estou inventando. Isso está na prestação de
contas do Democratas na Internet, é só ir lá no site dos Tribunais
Eleitorais que está lá, o fato que eu não fui ajudado pelo Democratas.
DIZEM que sua relação com o senador José Agripino nunca foi muito boa. E depois dessa saída, pirou?
EU NUNCA tive dificuldade com Agripino não. Eu sempre
tive um bom relacionamento, eu respeito muito Agripino, acho ele um
político de palavra, uma pessoa que tem feito muita coisa pelo Rio
Grande do Norte; tem liderado um bloco político que, inclusive, eu
estive durante muito tempo neste bloco político, e eu não descarto, na
possibilidade de numa coligação, o PP se coligar com o Democratas. Mas o
Democratas lá e eu aqui no PP.
DEPUTADO, a sua ida para o PP, liderando um
partido agora no Rio Grande do Norte, vai lhe colocar na mesa de
discussão da disputa majoritária, pelo tempo de televisão, pelo tempo da
propaganda eleitoral e pela importância que o partido tem em nível
nacional. Essa saída, evidentemente, foi bem medida. Ela garante a sua
reeleição?
NÃO. Cada campanha é uma campanha. Eu já participei como
candidato de cinco campanhas, consegui me reeleger em quatro e numa eu
perdi a eleição. O fato de ter saído do Democratas, que as decisões não
eram minhas, a possibilidade de escolha de uma coligação, a
possibilidade de me sentar à mesa, como você disse agora, é que cria uma
perspectiva de eleição, coisa que estava difícil na situação anterior.
QUAL é a avaliação política da governadora Rosalba Ciarlini?
A GOVERNADORA Rosalba Ciarlini tem feito um governo
muito trabalhador e lutado muito em seu governo. Agora, a governadora
teve um problema muito sério com a mídia e, principalmente, o ataque que
ela sofreu da Rede Globo. Foi uma coisa assim sem precedente na
história do Rio Grande do Norte. Nós chegamos ao ponto de a governadora
estar dando uma entrevista sobre as suas ações de governo e aí a Rede
Globo cortar as imagens, deixar o som, e mostrar a imagem de um hospital
absolutamente desorganizado, mostrando que a governadora estava
mentindo. Foi isso que a Rede Globo fez com Rosalba. Acontece que as
imagens não eram de um hospital do Estado, mas da rede pública do
município de Natal. Então, a Rede Globo usa falsa imagem para prejudicar
o governo de Rosalba. Temos entrevista gravada, em que os repórteres da
Globo aqui do Estado induzem as pessoas a falar mal de Rosalba e,
recentemente, em um caso até lamentável, uma senhora foi em um
pronto-socorro de Natal, teve uma parada cardíaca, foi atendida por uma
médica – você vê as imagens – e alguém questionou que o SAMU poderia ter
ajudado, só transportando a doente. As condições que têm na ambulância
do Samu, que é um serviço municipal, já estavam presentes naquele centro
de saúde, mesmo assim, como a imagem era complicada, os familiares
chorando, a jornalista da Rede Globo ainda resolveu botar o Governo do
Estado como responsável por aquela ação. Então, coisas assim como essas,
efetivamente, como a população não percebe esse fato, isso faz que a
imagem do governo decresça muito. E Rosalba paga hoje esse ataque
violento da Rede Globo e da Tribuna do Norte à administração dela. Mas
ela vai ter oportunidade na campanha, nos sites, na propaganda eleitoral
gratuita, nas praças e na rua, de mostrar o seu governo operoso, no
sentido de muitas ações para o Estado do Rio Grande do Norte, e mostrar
que o governo de Rosalba está fazendo o governo crescer.
COMO o senhor avalia a saída do PMDB e agora do PR da base do governo?
TAMBÉM do PV, que também saiu, né? Essas saídas são
naturais. Assim, na época da campanha os exércitos vão se arrumando, e é
bem verdade que o PT e o PMDB formam, juntos, um cacife muito grande e
uma expectativa de vitória. Agora, eu acho que essa vitória, esse cantar
da vitória antes da hora é uma coisa muito perigosa. Porque, quando
Agripino foi candidato contra Garibaldi, ele tinha 70% das intenções de
voto e Garibaldi 30%. Quando abriram os votos, Garibaldi ganhou no
primeiro turno. Aqui nessa última eleição, com dona Wilma, ela tinha 30%
das intenções de voto e Garibaldi, que nós apoiamos, tinha 70%. Quando
chegou-se ao resultado final das eleições, Wilma foi reconduzida ao
governo. Portanto, as ações do governo, quando convenientemente
divulgadas, vão mostrar à população do Rio Grande do Norte a seriedade
do governo Rosalba e Rosalba vai ser reconhecida por esse esforço e vão
dar um novo mandato a Rosalba. Aí, com a água bem dividida, com o
divisor de águas, Rosalba vai governar com a equipe dela e,
naturalmente, vai deixar no Governo do Estado a mesma marca que deixou
na Prefeitura de Mossoró. Mossoró mudou de patamar quando Rosalba passou
aqui na Prefeitura, e o Governo do Estado vai mudar de patamar nesta
segunda administração de Rosalba.
NA SEMANA passada, Garibaldi voltou a
reafirmar que não é candidato, deixando no PMDB o mesmo clima de
incerteza. Como o senhor vê essa situação e essa dificuldade de o PMDB
definir um nome para concorrer ao Governo com Rosalba?
O QUE está traçado hoje nesse cenário político do Rio
Grande do Norte é que o PMDB já se juntou com o PT, que vai indicar
Fátima (Bezerra) a senadora; se juntou com o PR, que vai indicar João
Maia para vice: o empresário Marcelo Alecrim (PR) vai ser o substituto
de João Maia na candidatura a deputado federal, e o que está faltando
nesse processo todo é a definição entre Garibaldi e Henrique. Henrique
quer, mas os números das pesquisas ainda não consolidam, não garantem a
ele um bom desempenho na campanha; diferentemente de Garibaldi, que tem
uma posição muito consolidada e é um adversário de peso contra a
governadora, se for ele o candidato.
NESSE cenário, onde ficam a ex-governadora Wilma de Faria e o vice-governador Robinson Faria?
É. É uma coisa complexa, né? Está mostrando, o momento
político, que nós temos três blocos no momento no Rio Grande do Norte:
nós temos o bloco do PMDB, que neste momento está junto com o PT, está
capaz de aglutinar as maiores forças do Estado em torno dele. Nós temos a
governadora – que está muito parecida com a campanha passada, né? Neste
momento da campanha, quando faltava um ano para a campanha, Rosalba
estava sozinha e o Democratas estava tentando fazer um entendimento com o
governo de Wilma para João Maia ser o candidato. Depois houve um recuo
do Democratas que apoiou Rosalba. Neste momento, nós estamos vendo
notícias da imprensa em que o senador José Agripino está dizendo que a
prioridade é a chapa proporcional do partido e que depois vai ver essa
questão da majoritária. Então, na minha ideia, o senador José Agripino
vai, efetivamente, apoiar a reeleição de Rosalba e Rosalba vai formar um
bloco político com Agripino e outras forças menores da política do Rio
Grande do Norte e, talvez, nem menos representativas do que essas que
aparecem hoje. Aí, fica a questão do bloco da ex-governadora Wilma de
Faria. Nesse quadro tem Robinson dizendo que é candidato, embora o
melhor nome seja o da ex-governadora. Eu não sei como eles vão se
definir, mas o fato é que eles têm dificuldade de se compor com o
Democratas, e o bloco formado em torno do PMDB já excluiu os dois desse
processo.TAGS:BETINHO
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