Brasília – Para o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, o
presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), transformou a
Casa Legislativa em um “balcão de negócios”.
A afirmação consta de trecho do pedido de afastamento de Cunha do
cargo em que os investigadores detectaram troca de mensagens de celular e
outras informações que provariam que Cunha é um “longa manus” de
empresários para apresentar medidas legislativas que o beneficiassem.
“E Eduardo Cunha recebia valores, seja por doações oficiais, para si
ou para os deputados que o auxiliavam (também este o motivo pelo qual
possui tantos seguidores), ou por meio de pagamentos ocultos”, escreveu
Janot.
Cunha é suspeito de atuar em ao menos onze medidas provisórias para
beneficiar bancos em liquidação e o banqueiro André Esteves, do BTG
Pactual. De acordo com da Procuradoria-Geral da República (PGR), o
peemedebista atuou “protegendo os interesses ilícitos destes em
detrimento do interesse público, visando, assim, receber vantagens
indevidas”.
PRESIDENTE NACIONAL DO PSB AFASTA ROMÁRIO DA PRESIDÊNCIA DO PARTIDO NO RIO
O
senador Romário (PSB-RJ) foi destituído da presidência do partido no
Rio na tarde desta quarta-feira. A Executiva Nacional decidiu intervir
no diretório estadual após a revelação, feita pelo GLOBO, de que o
assessor parlamentar Wilson Musauer Júnior, lotado no gabinete de
Romário e tesoureiro do PSB no estado, é acusado de cometer quatro
homicídios.
O presidente do PSB, Carlos Siqueira, enviou uma carta ao senador e
ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) comunicando a decisão. Além de
Romário, saem também Musauer, Sérgio Barcelos, Rafael Takashi e João
Carlos de Oliveira, todos indicados pelo senador. O segundo
vice-presidente, Pedro Delarue, também deixou o cargo.
A relação entre Romário e a direção nacional do partido já andava
tensa, e a revelação do processo em que Musauer é réu foi a gota d´água
para a decisão. Segundo Siqueira, havia uma “grande insatisfação” com a
gestão do senador.
— A forma como o Romário vinha conduzindo o partido já estava
insatisfatória. Falava-se de acordos (para as eleições) com os quais a
direção nacional não estava de acordo, aí veio essa história (do
processo) e apressou. Não queremos prejulgar, mas achei demasiadamente
grave um presidente ter colocado na direção do partido alguém (Musauer)
com essas acusações — afirmou Siqueira.
Ontem, Siqueira e Romário conversaram pessoalmente. Segundo o
presidente do PSB, o senador sugeriu que apenas Musauer fosse afastado
do comando do partido. Na conversa, Romário manifestou que poderia
deixar a legenda caso fosse afastado da presidência no Rio.
— Respeito muito o Romário, não é nada pessoal. Mas não podíamos deixar a situação como estava — reiterou Siqueira.
CENÁRIO ELEITORAL
O novo presidente do partido no Rio é o prefeito de Petrópolis,
Rubens Bomtempo, que ocupava a vice-presidência. A intervenção provocou a
formação de uma comissão provisória. Ainda não há data para uma nova
eleição da executiva.
— A Executiva Nacional fez esse pedido, para que eu pudesse assumir o
partido nesse momento importante e para que o partido possa ter um
porta-voz com mais afinidade com o conteúdo programático. Respeito muito
o Romário, sua história e seu mandato. Mas a Executiva Nacional acha
melhor ele se afastar para esclarecer as acusações feitas e ele (sobre
uma suposta conta na Suíça) e seu assessor — afirmou Bomtempo.
Sem ter uma definição de Romário quanto ao desejo de concorrer à
prefeitura em 2016, o PSB se prepara para outros cenários. Siqueira já
conversou com o senador Marcelo Crivella (PRB-RJ) sobre uma possível
filiação à sigla com o objetivo de concorrer à prefeitura em 2016.
— Não confirmo conversa com ninguém, mas não é só essa, são várias.
Mudanças vão acontecer no partido — disse Siqueira, sem se alongar.
Fonte: O Globo
QUAIS SÃO AS CHANCES DE EDUARDO CUNHA DEIXAR A PRESIDÊNCIA DA CÂMARA?
Do UOL, em São Paulo, e colaboração para o UOL, em Porto Alegre
O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ),
escapou nesta quarta-feira (16) de uma oficial de Justiça que deveria
notificá-lo sobre a abertura do processo contra ele na Comissão de Ética
da Câmara, mas as más notícias não cessaram com a “fuga”.
O procurador-geral, Rodrigo Janot, pediu ao STF (Supremo Tribunal
Federal) nesta quarta-feira (16) que o presidente da Câmara, Eduardo
Cunha (PMDB-RJ), seja afastado do seu mandato parlamentar e da
presidência da Casa, cargo que ocupa desde fevereiro.
Segundo o pedido, Cunha utilizou o cargo para interesse próprio e com
“fins ilícitos”, diz a nota divulgada pela Procuradoria, que afirma
ainda que Cunha usou o cargo para “constranger e intimidar”
parlamentares e réus em processos judiciais.
Com mais esse revés, uma pergunta ressurge com mais força: quais são
as chances de Cunha não só deixar a presidência da Câmara, mas também de
perder o mandato de deputado federal?
A reportagem do UOL procurou juristas e especialistas para esclarecer
como cunha ainda se sustenta e quais serão os passos a partir de agora
para uma eventual saída de Cunha. Eles responderam a cinco perguntas:
- Cunha pode ser afastado de suas funções da presidência da Câmara?
Tecnicamente sim. Mas é uma decisão que precisa ser embasada em provas materiais da atuação de Cunha contra as investigações, que ainda não apareceram. Para juristas ouvidos pelo UOL, não há provas contundentes que liguem Cunha às manobras para impedir o andamento do processo de cassação. “Um afastamento do presidente da Câmara, tomada pela decisão isolada de um colegiado, seja na Câmara ou no Supremo, deve ser cercada da mesma cautela que se tem ao analisar as eventuais responsabilidades políticas e criminais da presidente da República. A gravidade da situação é a mesma”, afirma o jurista José Eduardo Rangel de Alckmin, ex-ministro do TSE (1996 a 2001). “A prova, nesse caso, tem que ser ostensiva”, disse. - Quem pode afastá-lo?Tanto o plenário da Câmara quanto o STF podem tomar essa decisão. Na Câmara, um pedido de afastamento tem que ser acolhido pela Mesa Diretora – presidida pelo próprio Cunha. No Supremo, depende de interpretação. O artigo 86 da Constituição, por exemplo, determina afastamento do cargo quando o presidente do Executivo vira réu em uma investigação. Como Cunha está constitucionalmente na linha sucessória, o artigo poderia ser aplicado a ele no caso de a denúncia ser acolhida pelo STF. Para o jurista e professor Antônio Augusto Mayer dos Santos, membro do Instituto Brasileiro de Direito Eleitoral, mesmo que recomende a caracterização da violação do decoro, a questão deve obedecer ao rito interno da Câmara. “O STF tem um volume bastante respeitável de decisões envolvendo parlamentares.” Segundo Santos, Cunha até poderia ser inserido num pedido de afastamento no Supremo por atuar mediante interposta pessoa (seus aliados no Conselho de Ética), mas seria uma alegação “subjetiva e polêmica”.
- É possível que o deputado seja preso, como ocorreu com o senador Delcídio do Amaral em novembro?Parlamentares têm imunidade, mas podem ser presos em casos de flagrante delito criminal. Contra Amaral, pesava a acusação de integrar organização criminosa que atuou para impedir a delação premiada de um dos réus da Lava Jato, inclusive com o pagamento de propina e a oferta de fuga para o exterior. Contra Cunha não há a caracterização de que tenha atuado diretamente para impedir que seu processo fosse adiante, tanto no âmbito administrativo (Conselho de Ética da Câmara) quanto criminal (STF). Como lembra o advogado criminalista João Ibaixe Júnior, presidente do Centro de Estudos Avançados em Direito e Justiça, Cunha não é nem mesmo réu em nenhum processo, apesar dos indícios de atividade criminosa. “O controle ético é feito, no caso, pela própria Câmara”, pondera.
- O STF pode cassar o mandato de Cunha, independentemente da decisão que a Câmara dos Deputados venha a tomar em relação ao caso?Não. Decisão de agosto de 2013 no âmbito dos processos da Operação Lava Jato determinou que cabe ao Congresso definir o destino de um parlamentar condenado, revisando decisão que estabelecia a perda automática de mandato após condenação transitada em julgado. Nesse caso, o deputado só poderia ter seu mandato cassado por decisão do plenário da Câmara. “Há uma tradição de [o STF] intervir apenas quando houver uma flagrante ou ostensiva violação do devido processo legal”, afirma Antônio Augusto Mayer dos Santos.
- O que é preciso para que Cunha seja cassado na Câmara?Em primeiro lugar, é preciso admitir um processo por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética – decisão nesse sentido foi tomada na sessão desta terça-feira (15), dois meses após a denúncia ter sido protocolada. A partir do processo, Cunha ganha prazo de 10 dias úteis para apresentar sua defesa – o prazo não conta no recesso ou em convocação extraordinária. O plenário do Conselho (23 deputados) deve votar o parecer do relator em 60 dias, contados a partir da denúncia (3 de novembro). O plenário tem duas sessões para aprovar ou não o parecer. São necessários 257 votos (maioria simples) para a cassação do mandato.BLOG: O PRIMO
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