A Folha de S. Paulo assumiu: se não é Dilma, que não seja Temer.
Ou PT ou nada.
Novas eleições.
Leia o editorial da edição deste domingo:
A presidente Dilma Rousseff (PT) perdeu as condições de governar o país.
É com pesar que este jornal chega a essa conclusão. Nunca é desejável
interromper, ainda que por meios legais, um mandato presidencial obtido
em eleição democrática.
Depois de seu partido protagonizar os maiores escândalos de corrupção de
que se tem notícia; depois de se reeleger à custa de clamoroso
estelionato eleitoral; depois de seu governo provocar a pior recessão da
história, Dilma colhe o que merece.
Formou-se imensa maioria favorável a seu impeachment. As maiores
manifestações políticas de que se tem registro no Brasil tomaram as ruas
a exigir a remoção da presidente. Sempre oportunistas, as forças
dominantes no Congresso ocupam o vazio deixado pelo colapso do governo.
A administração foi posta a serviço de dois propósitos: barrar o
impedimento, mediante desbragada compra de apoio parlamentar, e proteger
o ex-presidente Lula e companheiros às voltas com problemas na Justiça.
Mesmo que vença a batalha na Câmara, o que parece cada vez mais
improvável, não se vislumbra como ela possa voltar a governar. Os
fatores que levaram à falência de sua autoridade persistirão.
Enquanto Dilma Rousseff permanecer no cargo, a nação seguirá crispada,
paralisada. É forçoso reconhecer que a presidente constitui hoje o
obstáculo à recuperação do país.
Esta Folha continuará empenhando-se em publicar um resumo equilibrado
dos fatos e um espectro plural de opiniões, mas passa a se incluir entre
os que preferem a renúncia à deposição constitucional.
Embora existam motivos para o impedimento, até porque a legislação
estabelece farta gama de opções, nenhum deles é irrefutável. Não que
faltem indícios de má conduta; falta, até agora, comprovação cabal.
Pedaladas fiscais são razão questionável numa cultura orçamentária ainda
permissiva.
Mesmo desmoralizado, o PT tem respaldo de uma minoria expressiva; o
impeachment tenderá a deixar um rastro de ressentimento. Já a renúncia
traduziria, num gesto de desapego e realismo, a consciência da
mandatária de que condições alheias à sua vontade a impedem de se
desincumbir da missão.
A mesma consciência deveria ter Michel Temer (PMDB), que tampouco dispõe
de suficiente apoio na sociedade. Dada a gravidade excepcional desta
crise, seria uma bênção que o poder retornasse logo ao povo a fim de que
ele investisse alguém da legitimidade requerida para promover reformas
estruturais e tirar o país da estagnação.
O Tribunal Superior Eleitoral julgará as contas da chapa eleita em 2014 e
poderá cassá-la. Seja por essa saída, seja pela renúncia dupla, a
população seria convocada a participar de nova eleição presidencial, num
prazo de 90 dias.
Imprescindível, antes, que a Câmara dos Deputados ou o Supremo Tribunal
Federal afaste de vez a nefasta figura de Eduardo Cunha –o próximo na
linha de sucessão–, réu naquela corte e que jamais poderia dirigir o
Brasil nesse intervalo.
Dilma Rousseff deve renunciar já, para poupar o país do trauma do
impeachment e superar tanto o impasse que o mantém atolado como a
calamidade sem precedentes do atual governo.
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