segunda-feira, 28 de outubro de 2013

INDEFINIÇÃO POLÍTICA NO RN É REFLEXO DE CRISE E LIDERANÇAS, AVALIA CIENTISTA





Principais líderes do estado perdem hegemonia, analisa Spinelli.
Principais líderes do estado perdem hegemonia, analisa Spinelli.

A indefinição no cenário pré-eleitoral é um reflexo da crise de liderança que vive o Rio Grande do Norte. A avaliação, feita pelo cientista político Antonio José Spinelli, considera também a imprevisibilidade no surgimento de novos messias para o RN. “Os políticos tradicionais apostam nos filhos. Cada um das quatro famílias tem um filho na política. Claro que os pais tem a pretensão de passar o bastão, mas ninguém pode garantir que eles serão líderes. É preciso carisma e capacidade de agregar apoios”.
O quadro de indefinições do Rio Grande do Norte foi parar, nesta segunda-feira (28), nas folhas nacionais. Sob o título “Sem candidatos declarados, eleição no RN é uma incógnita”, o jornal Brasil Econômico abre seu caderno de política dando destaque ao assunto.
“Muitas indefinições e especulações marcam o cenário pré-eleitoral do Rio Grande do Norte. Nem a atual governadora, Rosalba Ciarlini, do DEM, confirma sua candidatura à reeleição em 2014. Última colocada nas pesquisas de intenção de voto, Rosalba tem sua gestão mal avaliada pela população. Segundo levantamento realizado pelo Instituto Consult, 71,7% dos potiguares desaprovam o governo atual. Mas, nenhum dos possíveis adversários da governadora assume a candidatura, a não ser o atual vice-governador do estado, Robinson Faria, do PSD, o quarto colocado nas sondagens de intenções de voto”, diz o texto em sua abertura.
Para Spinelli, essa indefinição pode ser considerada um fato novo na política local, na medida em que consolida uma tendência iniciada em meados da década passada.
“Essa indefinição é um fato novo porque nas últimas eleições tínhamos sempre um quadro de disputa entre PMDB e PFL por 20 e poucos anos, desde 1982. Isso, na prática, foi quebrado em 2006. Em 2002, Wilma de Faria foi eleita com apoio do PFL. Em 2006, PFL e PMDB se unem. E ao mesmo tempo Dona Wilma se consolida como uma terceira força”, analisou o cientista.
No mais provável dos cenários, a disputa no RN caminha para a polarização entre DEM – se a governadora se lançar à reeleição – e PMDB. Spinelli considera, contudo, que só um “milagre” viabiliza a reeleição de Rosalba. Sobre o PMDB, ele cita que, se o candidato for Henrique Alves, o partido não vai para o pleito sem costurar um “acordão”, conforme a seguinte entrevista:
A completa indefinição no cenário local, mesmo com as figuras de sempre, pode ser considerado o fato novo da política do RN, certo?
Essa indefinição é sim um fato novo porque nas últimas eleições tínhamos sempre um quadro de disputa entre PMDB e PFL por 20 e poucos anos, desde 1982. Isso, na prática, foi quebrado em 2006. Em 2002, Wilma de Faria foi eleita com apoio do PFL. Em 2006, PFL e PMDB se unem. E ao mesmo tempo Dona Wilma se consolida como uma terceira força. Você vê também que na Câmara Federal e Assembleia Legislativa o partidarismo é maior a partir de 2002. Os anos de 2002 e 2006 são anos de viragens. Não há mais um partido hegemônico. Há uma dispersão partidária muito grande, o que indica uma certa crise de liderança.
Pelo que o senhor falar, então, uma crise de liderança se instalou.
Era assim efetivamente [a disputa polarizada]. A composição refletia a disputa bipolar, que agregava forças. A partir de 2002 essas forças perdem a hegemonia. E isso reflete crise de liderança. Tanto é que o PMDB perde a hegemonia e não se renova. Tanto é que o PMDB só tem o nome de Garibaldi para o governo. Henrique só vai se tiver aliança muito ampla. O grande aspecto da crise é que não se consolidaram lideranças novas. Você tem os filhos, mas são caras ainda muito jovens e inexperiente. Não mostraram se são capazes de exercer liderança ou não.
O senhor fala de eleições para governo e legislativo como se o leitor as pensasse como pleitos diferentes. A análise correta é de que o eleitor se emancipou da influência do majoritário sobre o proporcional?
É assim sim. O eleitor segue uma lógica para majoritária, particularmente governador. É o voto dele, o voto de eleitor. O voto proporcional está muito atrelado a indicações de chefes políticos, isso principalmente no interior, ou então mesmo de dinheiro.
As atuais lideranças estão quase esgotadas. Dá para pensar na construção de líderes para os próximos quatro anos?
É muito imprevisível. Quem diria que Fernando Haddad seria eleito prefeito de São Paulo, enfrentando políticos profissionais?. É claro que o PT tem uma estrutura forte, mas é imprevisível. Podem surgir novas lideranças. Nas eleições pode ocorrer uma liderança. Agora se esse alguém é quem vai conseguir projetar e agregar aliados isso aí e imprevisível. Os políticos tradicionais apostam nos filhos. Cada uma das quatro famílias (Alves, Maia, Rosado e Faria) tem um filho na política. Claro que os pais tem a pretensão de passar o bastão, mas ninguém pode garantir que eles serão líderes. É preciso carisma e capacidade de agregar apoio.
Voltando ao início da conversa, sobre indefinições, há como a governadora Rosalba Ciarlini viabilizar sua reeleição?
Só um milagre para ela viabilizar sua candidatura. No último fim de semana, o principal colaborador da governadora, o secretário Obery Rodrigues, deu entrevista sobre as dificuldades do orçamento. Por mais que ele apresente argumentos que parecem ter procedência, é uma situação que já se consolidou. Ela não tem diálogo com outros poderes. Não há como recuperar isso, a menos que ela fizesse um pacto político. Mas ela não tem apetite, nem é o estilo dela. Ela governou Mossoró com estilo clientelista. E não se pode governar o Estado como se governasse Mossoró. Nessa questão de orçamento falta bom senso de todas as partes, da Assembleia, do Tribunal de Justiça e do Ministério Público. Nenhum está preocupado com o bem público. Estão preocupados em garantir suas benesses. É uma briga meramente corporativa.

Nenhum comentário: